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“Pergunta como é que se pode fazer algo em vez de dizeres que não se consegue fazer.”
Bo Bennet
Nos grandes momentos, cresces ou encolhes-te?
Quando aquilo que queres que aconteça, ou que querias evitar, acontece, escondes-te ou cerras os punhos?
A escolha é sempre entre estas duas opções, crescer, centrar nas forças, ou pelo contrário, encolher e começar a contar todas as nossas falhas e as razões porque vai correr mal e não vamos conseguir superar o desafio.
O meu modo de operar é por defeito o segundo, o de começar a procurar todas as razões pelas quais não vou conseguir, todas as dificuldades que vou ter e que me vão impedir de atingir o meu objectivo. Todos temos um modo de reagir que nos é mais natural, vários factores terão estado na origem de os nossos circuitos neuronais estarem de uma maneira que nos faz crescer ou de uma maneira que nos faz encolher.
Posso dar o exemplo cá de casa, tenho duas filhas, uma reage de uma forma, e outra de outra, uma cresce, a outra encolhe. Mesmo pai, mesma mãe, experiências semelhantes, pessoas diferentes. O meu papel como pai será ajudar ambas, mas de formas distintas, é-me mais fácil identificar com uma, e ficar feliz com a determinação que a outra possui naturalmente.
Será que ficamos limitados por reagir mais rapidamente de uma forma que nos faz encolher?
Sim, e não.
Há aquela frase que nos diz que a melhor altura para plantar uma àrvore era há vinte anos, a segunda melhor, é hoje. O mesmo se passa aqui.
Quando uma situação surge, como por exemplo fazermos uma apresentação pública, ou pedem-nos um trabalho importante, ou somos chamados a dar o nosso melhor, podemos ter a reacção de nos encolher-mos, poder, podemos. A questão aqui é simplesmente quanto tempo é que nos permitimos estar lá, no buraco escuro em posição fetal, à espera que o medo passe, como se tivéssemos a querer viajar no tempo, avançando os dias e as horas que nos separam do fim da tal apresentação importante, da entrega do trabalho que nos vai obrigar a crescer.
Não conseguimos parar o tempo, quer fiquemos encolhidos, quer nos coloquemos em bicos dos pés, o tempo vai passar, e passa rápido, por isso quanto mais tempo estivermos encolhidos a contar as desgraças prováveis que imaginamos, menos tempo vamos passar a juntar todas as nossas forças e capacidades para dar a resposta mais adequada ao nosso real valor.
Ouvi uma entrevista do nadador Conor Dwyer, vencedor de dois ouros olímpicos, onde ele refere que antes da sua primeira final olímpica de estafetas, sendo o mais novo de uma equipa que incluía Michael Phelps e Ryan Lochte, o Phelps se virou para ele e lhe disse – “vê lá se me dás uma boa vantagem para quando for a minha vez” – e ele que já estava nervoso, mais ficou, mas rapidamente mudou o discurso interno, pensou que se o maior nadador de todos os tempos lhe estava pedir para lhe arranjar um avanço é porque acreditava que ele era capaz. Poderia facilmente ficar no registo mental de que o Phelps não se queria esforçar, que lhe estava a passar a responsabilidade do resultado final, mas o Conor escolheu ver o pedido do seu ídolo e colega de equipa como uma oportunidade de crescer, de mostrar que merecia estar ali, ao lado dos maiores.
Em Janeiro, algo me fez querer partilhar contigo as minhas reflexões, no entanto a primeira reacção foi de medo, o que irias pensar, o podcast sempre foi sobre os convidados, o que eles têm para partilhar é que é interessante, e todas estas semanas, este é o décimo nôno texto, cada vez que me sento para escrever o medo volta, mas todas as semanas é menor, todas as semanas cresço, todas as semanas reúno mentalmente as respostas que tenho tido aos textos, o que aprendo ao reflectir sobre este ou aquele assunto que me assusta ou que me entusiasma. É o espaço que uso para crescer.
São os textos obras primas?
Longe disso, são sim tentativas de crescimento, são treinos para cada vez me sentir mais confiante para atingir as metas a que me proponho.
Existe uma teoria da psicologia social, a teoria da auto-eficácia do Albert Bandura – “Auto-eficácia designa em psicologia a convicção de uma pessoa ser capaz de realizar uma tarefa específica” – essa tarefa pode ser qualquer coisa, desde falar para centenas de pessoas, ou conseguir tocar numa cobra. A auto-eficácia, a minha crença de que sou ou não sou capaz, tem quatro fontes de informação que me permitem acreditar ou não na minha capacidade de superar a tarefa, que são as performances passadas de sucesso, as experiências vicariantes, a persuasão verbal e os estados fisiológicos/emocionais.
Um exemplo de performances passadas de sucesso seria se, quando me pedem para criar um logotipo, eu já tiver feito vários com resultado positivo, mais facilmente acreditarei na minha capacidade de dar uma resposta válida ao pedido.
A segunda fonte de informação são as experiências vicariantes, que não são mais do que o ver outros a terem sucesso no desempenho da tarefa que me proponho fazer, neste caso ver pessoas com níveis de experiência semelhantes aos meus a desenvolver logotipos, o que me leva a acreditar que se eles são capazes, eu também devo ser.
A terceira fonte, é a persuasão verbal, que tanto pode ser o nosso líder dizer-nos que somos capazes, como o nosso ídolo a dizer que acredita no nosso potencial. Se estas referências para nós acreditam, também mais força passa a ter a nossa crença de sermos bem sucedidos na criação do tal logotipo. Na persuasão verbal também está incluído o discurso interno, aquilo que nos dizemos, se este discurso for derrotista, não será fácil acreditar que vamos superar o desafio, por essa razão é muito importante conhecer o conteúdo do que se passa na nossa cabeça.
A última fonte, os estados fisiológicos/emocionais, tem a ver como me sinto, se o corpo está todo a tremer, se estou com suores frios, será difícil convencer-me que sou capaz de ter sucesso, pois normalmente associamos este tipo de reacções emocionais e fisológicas com incapacidade, com receio. Um bater de coração mais acelerado pode ser de entusiasmo, ou medo, e aquilo que tem sido estudado informa-nos que o novato interpreta como medo, e os mais experientes como algo natural, que faz parte do processo de tentar coisas grandes.
Se quando os grandes momentos chegam, eu estou encolhido, não me vou lembrar de todas as situações em que superei dificuldades, não vou prestar atenção àqueles que à minha volta e parecidos comigo conseguiram, não vou ligar aos incentivos dos que me rodeiam e que me encorajam, e nem vou conseguir interpretar as minhas reacções emocionais e fisológicas como positivas, como entusiasmo, como desafio a ser superado.
Mesmo os mais experientes tremem quando o desafio sobe de nível, mas tremem porque estão em bicos de pés, de coração cheio, de olhos em tudo o que vão poder aprender numa nova etapa.
A próxima vez que alguém te propuser um desafio que gostasses de experimentar, estuda de que forma aquilo que já tens te vai permitir alcançar aquilo que nem os teus sonhos foram capazes de prever, estica-te, pede ajuda, e se preciso for, sobe para cima de um banco. Mas não te encolhas.
Dúvidas ou sugestões rui@falarcriativo.com
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