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Quando é muito importante, consigo confiar em mim?
Esta pergunta que ouvi esta semana capta o que é para mim alta performance.
Podemos começar por desconstruir o que é alta performance.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam alta performance não é apenas dar saltos mortais em cima de uma mota, ou jogar futebol ao mais alto nível, nem conseguir ganhar grandes quantidades de dinheiro.
Alta performance é nos momentos chave, naqueles que são importantes para nós, e por vezes para os outros, dar uma resposta adequada, mas acima de tudo acreditar que tenho em mim a confiança e a capacidade para arriscar.
Por exemplo, um miúdo que já consegue dar um salto de cinquenta centímetros, e é confrontado com o desafio de saltar um metro, conseguirá ele ter a confiança em si que lhe permite arriscar e dar esse salto duas vezes maior?
Todos os dias podemos ser confrontados com decisões semelhantes nas nossas vidas, se a nós ou alguém que nos é próximo é diagnosticado um problema grave, será que conseguimos confiar em nós o suficiente para dar o nosso melhor, em vez de entrar em pânico e criar mais problemas que soluções?
Alta performance, é risco, sem dúvida, estamos a tentar algo que ninguém tentou, ou que nós nunca tentámos.
Significa que só alguns privilegiados podem ser considerados de “high performers”?
Não.
Todos aqueles que no seu dia-a-dia tentam algo que os faz tremer, que implica ir mais fundo, buscar forças extra para avançar, todos são high performers.
Aquele pai que tem dificuldade em exprimir sentimentos e emoções, no dia em que larga a armadura, rola no chão, brinca com o seu filho e lhe diz que o ama, também ele teve de arriscar, teve de tentar coisas que lhe são difíceis, mas teve de confiar em si, que acontecesse o que acontecesse estaria bem.
O adolescente que se apaixona pela primeira vez, que cora sempre que olha para a sua amada, que sua das mãos, no momento em que avança e declara o seu amor não sabe se vai ter sucesso, se é correspondido, mas tem de confiar em si, na sua capacidade de se expor a algo que pode ou não ter um final feliz.
O grande desafio é tentar depois de não ter corrido bem, se não correu bem da primeira vez que tentamos algo, porque razão devemos confiar em nós nos próximos momentos importantes?
Para responder a isso tenho que voltar atrás, parar um pouco, talvez apanhar uma estrada paralela.
Para confiar em mim, eu tenho de me conhecer.
E como é que eu me conheço?
Testando-me nos momentos difíceis.
“Espera aí, mas se eu não me conheço não vou arriscar nos tais momentos difíceis porque não me conheço!”
Tens alguma razão, não fui claro.
Para nos conhecermos temos primeiro de ter essa curiosidade, mas muito daquilo que somos encontra-se em zonas mais escondidas que só se revelam quando somos confrontados com a adversidade.
O grau dessa adversidade deve ser ajustado ao grau de conhecimento que tens sobre ti, logo ao quanto confias em ti.
Se consegues falar perante um grupo de quatro pessoas, o próximo desafio é falar de algo que é importante para ti a um grupo de seis ou sete pessoas, ou se consegues falar de assuntos banais com três pessoas, o desafio poderá ser falar de algo que mexe muito contigo mas só com uma.
No desporto por exemplo, muitos jogadores chegam a um patamar de eficácia onde conseguem responder de forma acertada às exigências normais de jogo, mas nos momentos de maior exigência, mantêm aquilo que é o seu normal, aquilo que sempre funcionou, não falham nenhum passe de cinco metros, mas nos jogos em que é preciso, não arriscam fazer o passe de dez metros porque podem falhar, não confiam em si.
O grande problema é que por vezes nem em treino tentam algo de novo devido ao auto-conceito que criaram de ser o jogador que acerta todos os passes de cinco metros, e não querem arriscar a ser o jogador que falha quase todos os de dez metros.
“Se achas que consegues, ou se achas que não consegues, tens razão.
Henry Ford
Esta frase pode estar bastante batida, pode até não haver já paciência para esta conversa, mas ela capta algo importante, o grau de confiança que levamos para as coisas condiciona o esforço que coloco, e isso sim influencia as probabilidades de sucesso.
Se eu consigo fazer passes de cinco metros em quase todas as situações com um grau de eficácia elevado, terei de confiar em mim, na minha capacidade de vir a ser capaz de fazer os passes de dez metros, apesar de numa primeira fase falhar muitos, confio que vou conseguir.
Como então volto a tentar quando não corre bem?
Encarando a nova situação, como nova, não é uma continuação da anterior, é uma situação que começa do zero, mas com a grande vantagem da análise crítica que fiz da situação anterior onde revi os pontos que acho que posso melhorar.
Costumo dizer que se todos os jogadores conseguissem encarar a realidade que todos os jogos começam nivelados, teríamos muito mais equipas ditas pequenas a ganhar às equipas ditas maiores.
Na nossa vida há também muitas situações em que olhamos para o desafio e começamos logo a pensar que estamos a perder por dez a zero.
“Ah, eu nunca vou conseguir.”
“Isso é fácil para os outros que são mais fortes/bonitos/talentosos!”
É verdade que é mais fácil para uns de que para outros, mas não é verdade que seja fácil.
Há pouco mais de um ano conversei com uns jovens nadadores e perguntava-lhes como era a ansiedade antes da prova, se tinham, como lidavam com ela, e a quase totalidade respondeu que se treinou como devia em preparação para a prova, não havia grande ansiedade, confiavam naquilo que sabiam ser capazes.
Se eu nunca tentar algo novo, com o risco de falhar, nunca conhecerei quem sou nos momentos que me desafiam, e se eu não me conheço na dificuldade nunca vou poder confiar em mim quando é preciso arriscar naquilo que é importante para mim.
É difícil dizer onde está o ovo e onde está a galinha, se primeiro arrisco ou se primeiro confio, mas pouco importa, arrisca, confia, ou confia e arrisca, mas sai da beira desse muro, salta.
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