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O convidado desta semana é o Bernardo Carvalho, ilustrador, que surgiu em conversa quando falei com o Tomaz Viana, como sendo o seu mestre do surf.
Engraçada esta coisa do mestre, pois quando conversei com o Bernardo, a questão da mestria veio à conversa, no sentido em que o curso de desenho que tirou na Sociedade Nacional de Belas Artes, tinha muito de saber olhar, de memória visual, mas muita repetição, não há talentos naturais, há dedicação. Se houver uma inclinação natural, a vontade irá estar associada, porém para chegarmos mais longe temos de continuar, insistir, mesmo quando não está a correr muito bem, e não apetece.
Gostei mesmo de conversar com ele, este foi daqueles convidados que cheguei todo entusiasmado a casa, a contar isto e aquilo da conversa, a dizer que era “gajo muito fixe”, e que me fez querer voltar a desenhar. Não que ache que estou ao nível dele, mas a postura de ter pica, para atacar os desenhos, o divertir-se a desenhar, isso quero voltar a ter, e percebo que foi o não continuar a desenhar tanto como desenhava que me fez regredir.
Quando me confrontei com pessoas que desenhavam melhor do que eu, não tive a coragem de perceber como é que posso desenhar assim, mas encolhi-me e preferi fazer-me de vítima, deixando o desenho para o lado. Não o abandonei, mas passei a encará-lo apenas como uma ferramenta para me explicar enquanto arquitecto, e como ferramenta de entendimento de questões mais complexas.
Claro que o desenho pode ser também isso, serviu-me bastante, mas o gosto de riscar, de experimentar canetas novas, lápis, estrear cadernos, foi ficando para trás e com ele muito do que fazia feliz.
A minha felicidade não passa somente pelo desenho, mas ajuda a aumentá-la.
A felicidade do Bernardo passa muito pelo desenho, mas também pelo surf, tanto é que uma das formas que tem de estruturar a sua semana é a de saber como vão estar as marés, e se vão haver ondas no sítio onde costuma surfar.
Gostei de o ouvir falar do surf, de como é importante para ele, sem com isso deixar de ser cumpridor, como ele próprio se considera.
Vivemos muito numa mentalidade de sim ou não, preto ou branco, “se faz surf com fartura não trabalha”, “se dorme muito não produz”, e cada vez mais tenho exemplos de que é no fazer aquilo que nos motiva que arranjamos as forças para aqueles dias em que não vai apetecer, mas que vamos continuar a fazer, sabendo que no dia seguinte ou até na semana seguinte, teremos superado mais um desafio e estamos mais fortes.
- O livro sugerido é o Stoner do John Edward Williams.
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