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“O nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. O nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz, não a nossa escuridão, que mais nos assusta.”
Marianne Williamson
Dás tudo o que tens em tudo o que fazes?
Colocas sempre a máxima intensidade nas tuas acções?
Eu não, e esta semana ao ouvir umas entrevistas de soldados de operações especiais, percebi que há um poder muito grande que podemos usar a nosso favor quando temos a coragem de nos assustarmos com todo o nosso potencial.
Tem sido o medo de tocar nessa força imensa que tenho dentro de mim que me tem impedido de chegar onde quero chegar, e sobretudo de ter a paz por saber que dei tudo o que tinha.
Não sei se contigo já te aconteceu, mas aqueles momentos em que nos deixamos ir com tudo, é intenso, sedutor e por isso mesmo assustador. Assustador porque quando não há controlo sobre as nossas forças, são as nossas forças a controlar todo o processo.
Há magia quando me deixo fluir, quando não resisto às energias que vêm de dentro e que me chegam de fora, mas também está lá o receio de ser engolido por algo muito maior que eu.
Ora, aí está o segredo, se eu quero ser maior amanhã do que aquilo que sou hoje, como não experimentar, tocar em algo que me transcende?
Tal como a minha filha de seis anos me dizia esta semana, “eu queria ser duas para poder estar em dois sítios”, também eu quero a segurança de estar em controlo da situação e quero as potencialidades vêm de tocar a transcendência.
Aqui , como em tudo é o desafio de escolher entre o que me incomoda mais, perder o controlo, ou sentir que o meu melhor fica escondido.
Na minha vida já tive experiências de raiva assustadoras, experiências de tristezas assustadoras, e passei a proteger-me de todas as situações que me possam colocar em contacto com isso, é como levar um choque por tocar em algo proibido, não voltamos a fazê-lo de ânimo leve.
Odiei a pessoa que encontrei quando tive essa raiva e essas tristezas, reconheci-lhes o poder de me destruírem, de destruírem o melhor que tenho dentro de mim.
Passei a esconder-me, a esconder esse ser violento e depressivo, passei a viver com o fantasma de descobrirem que ele vive dentro de mim, mas com isso deixei de ter a energia necessária a levar as coisas a um patamar mais elevado.
Houve uma altura da minha vida onde consegui estar tranquilo e em paz, a vida sorria, não porque não existissem problemas, mas porque dava espaço à raiva, aproveitava a energia gerada e canalizava para a intensidade, não para a agressividade. Praticava Karaté, e nos treinos era por vezes obrigado por alguns exercícios a confrontar-me com receios que tinha, o risco de levar um pontapé, um soco, e aí o bicho de auto-preservação que é a raiva era obrigado a mostrar-se, mas a sua tarefa era proteger-me, atacando, mas não atacando gratuitamente. Dava-lhe espaço, e ela dava-me paz.
Percebo agora, ao pensar nisso, que a intensidade precisa de intencionalidade, deixada à solta, sem propósito, torna-se veneno, consome o hospedeiro, mesmo que o fim seja o seu fim, torna-se auto-destrutiva.
No caso que referi do Karaté, havia intencionalidade, quando estou a meditar sobre os meus extremos emocionais, há intencionalidade, há a curiosidade de investigar, de conhecer, quando escrevo estes textos há a intenção de perceber mas também de partilhar, e isso faz toda a diferença.
Quando não damos espaço, quando tentamos esconder, quando não temos uma intenção, a direcção deixa de ser nossa, deixa de ser produtiva, mas repara que não falo aqui de controlo, esse é por vezes o meu erro, é tentar conter, reprimir algo que tem muito mais força que eu.
Nos meus tempos mais ligados à arquitectura, à obra, lembro-me de aprender de que não há maneira de impedir a água de entrar aqui ou ali, apenas devemos levá-la para onde nós queremos, conduzi-la.
Ao escrever isto acabei por chegar a um processo que partilho agora contigo, para poderes usar toda a tua energia, toda a tua intensidade.
A intensidade como disse precisa de intencionalidade, essa intenção apenas precisa de direcção, apontares onde queres canalizar toda essa energia, essa potência que carregas dentro de ti.
Se apontares, se houver intencionalidade naquilo que fazes, podes libertar tudo sem receio de estragos, sem medo.
Se souberes que estás num local vedado, sabes que podes soltar o teu cão para libertar tudo o que tem dentro de si, não sentes a necessidade de fazer força na trela, nem estar preocupado com o que ele poderá ou não fazer de disparates.
Nem sempre teremos a certeza se a direcção que escolhemos é a mais correcta, mas uma coisa te garanto, se não apontares a nada também não acertas em nada.
Resumindo, ganha clareza e aponta, liberta, vais ver que chegas mais longe, e caso o caminho não seja bem aquele que querias, aponta outra vez, mas agora já estás mais consciente que tens a energia que precisas para atingir o teu máximo.
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