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“Aquilo que é importante raramente é urgente e o que é urgente raramente é importante.”
Dwight D. Eisenhower
Este texto era para ter sido publicado na semana passada, ironia das ironias, não o foi.
Porquê?
Porque eu disse que sim a demasiadas coisas, às urgentes, não às importantes.
Também disse que sim a algumas importantes, mas a sensação que tive foi a de todos os dias chegar ao fim e de não ter feito o suficiente.
Quando é recorrente o sentimento de não ter sido o suficiente, não é porque fizemos pouco, é sim porque fizemos muita coisa que não nos preenche.
Todas as tarefas, projectos que acedemos fazer contêm em si um número grande de sub-tarefas que são necessárias para que a grande tarefa seja cumprida, e é normalmente aqui que nos perdemos, eu pelo menos, assim o tenho feito.
No início da semana passada falei com uma pessoa que me disse que ainda não tinha tido tempo para escrever uma simples mensagem para outra pessoa, estamos a falar de cinco, seis, dez linhas no máximo de conteúdo, algo que demorará uns cinco a dez minutos a fazer. Que vida é essa que não permite que excepcionalmente se incluam cinco a dez minutos extras para escrever?
Que vidas se tornaram as nossas que quando é necessário combinar algo com mais do que duas pessoas parece que estamos a lidar com a agenda de pessoas que têm de gerir os destinos de um país?
Porque razão se tornou sinónimo de sucesso, responder que andamos sem tempo?
Se o tempo é dinheiro, andamos nós mais pobres ou mais ricos?
Sim, porque se andamos a trocar tempo por algo, deveria ser dinheiro, ou não?
Sei que a maior parte das pessoas que falo se queixa do mesmo, que não tem tempo para nada, mas no entanto a agenda está cheia. Uma contradição deveras interessante, pois provavelmente está cheia de coisas que as pessoas não consideram importantes, são coisas que consideram obrigações, urgências, algo que têm de fazer, que depende delas, e que na maioria dos casos é para ser feito para ontem.
Vejo que as agendas dos que são pais se enchem com todas as festas e solicitações que as crianças passaram a trazer para as agendas dos adultos. Quando criança lembro-me de ter tempo, lembro-me de me aborrecer por não haver nada para fazer, lembro-me dos meus pais terem tempo de ver televisão comigo, lembro-me de serões a jogar às cartas, lembro-me de viagens à terra do meu pai num jipe que não passava dos cento e vinte kilómetros hora, mas nem por isso havia esta enorme falta de tempo percebida.
Havia muitas coisa por onde escolher, a grande diferença é que não tínhamos conhecimento nem de metade. Aquilo que me parece é que nos sentimos mais solicitados, e menos capazes de dizer que sim a tudo, porque o tudo antigamente era muito menos, hoje tudo são centenas de coisas, são centenas de “amigos” no facebook, a que se juntam centenas de páginas que promovem o seu evento, e nós a ver o mundo a acontecer, incapazes de estar presentes nem que seja em dez por cento das coisas. É que ficamos a saber que o Manel vai à festa X, que a Sara vai ao lançamento de Y, que o Gonçalo vai ao jantar da Joana, que aquela banda que tanto gostamos toca no mesmo dia que a nossa avó faz anos e que há o eclipse, no dia em que joga o nosso clube para decidir o campeonato, e..e..e..e… não tem fim.
Então como encontrar paz neste caos de informação e solicitações do nosso tempo?
“Estamos todos ocupados. Todos aceitámos demasiado. Dizer sim a menos coisas é o caminho.”
Derek Sivers
Primeiro será marcar na nossa agenda tempo para estabelecer prioridades, sem elas a tensão de dizer que sim será muito maior. Se eu souber que não digo que sim a mais propostas, a dúvida não se coloca no momento em que tenho de recusar, a decisão está tomada antes de ter que ser tomada. É o mesmo que querer decidir que vou deixar de comer bolos dentro de uma pastelaria com fabrico próprio… não vai dar.
O Derek Sivers tem explorado o conceito de não dizer que “Sim”, ou dizemos “Claro que sim!!!” ou então dizemos “Não”. O objectivo é perceber rapidamente se vamos ter a energia para levar os projectos a bom porto sem nos matarmos pelo caminho, ou toda a felicidade que temos só porque fomos dizendo tímidos sim por medo ou para não falhar com expectativas alheias.
O fundamental para conseguir navegar neste mundo de muitas coisas, pouco tempo é saber à partida o que queremos para nós, estar presente em todos os eventos mesmo que isso signifique não dormir e não ver a família?
Ou será que queremos estar em controlo do nosso tempo?
Se não estivermos em controlo do nosso tempo, no momento em que todos os astros se alinham e nos presenteiam com a oportunidade da nossa vida, não vamos ter a possibilidade de lhe dizer “Claro que sim!!!”
Segundo o Seth Godin, “estar demasiado ocupado” é uma escolha, uma decisão que tomamos, precisamente por falharmos em tomarmos a decisão daquilo que queremos.
Eu por exemplo quero ter mais tempo para voltar à terra do meu pai, quero mais tempo para escrever, quero mais tempo para ir ao cinema, já decidi que vou dizer que não a todas as coisas que não preencham dois ou mais de quatro requisitos:
- Conhecimento – Vou aprender alguma coisa?
- Diversão – É algo que me dá gozo?
- Dinheiro – Vale a pena financeiramente?
- Ligação – É com pessoas que quero passar mais tempo?
Alguns convidados que gostava de entrevistar, não tenho conseguido por que eles têm definidas outras prioridades, em que dar entrevistas não é uma delas. Custa-me sempre um bocado não conseguir certas conversas que gostaria de ter, mas tenho cada vez mais respeito pelas pessoas que defendem o seu bem mais precioso, o tempo.
No dicionário, vem a definição de urgente como algo que vem de urgir, que significa entre outras coisas “apertar, oprimir, perseguir, acossar, impelir, apressar”.
Para importante temos, “que tem importância, valor ou mérito”, e também, “o que mais interessa”.
A pergunta que me deixo e a ti também é:
Onde queres passar mais tempo, naquilo que te aperta, oprime ou naquilo que tem valor e que mais interessa?
Vamos pensar nisso.
Qualquer coisa, envia um email para rui@falarcriativo.com
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