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“Most people overestimate what they can do in one year and underestimate what they can do in ten years.”
Bill Gates
Neste buffet de informação sem fim que é o mundo em que vivemos, achamos – eu sou culpado disso – que é o próximo video que vou ver, o próximo artigo que vou ler, o próximo livro que vou estudar, a próxima conversa que vou ter, são todas estas coisas vão resolver tudo, que ao ter o poder de escolher todos os artigos, e todos os videos possíveis, vou encontrar a peça de informação que falta para avançar, para ser feliz, para… o que for. Mas nunca é, ou muito raramente é.
Tenho andado a pensar sobre esta questão das longas distâncias, da persistência, e como isto se relaciona com a motivação para fazer alguma coisa, o que quer que seja que escolhi e quero fazer.
Primeiro, escolher, a grande dificuldade para mim, e para muitas pessoas com quem vou falando, porque há muitas escolhas, mais difícil se torna decidir, o famoso paradoxo da escolha. Se a única comida disponível para almoçar for batatas com massa e eu estiver com fome, a escolha torna-se óbvia e não um momento de confusão ou resistência, e se não gostar mesmo nada de massa ou batatas também é fácil, não como, e busco alternativa.
A decisão é muito simples como me disse o anterior convidado Miguel Oliveira, quando teve de decidir entre a fotografia e a arquitectura, assumindo que as duas iriam ter obstáculos, perguntou-se qual lhe seria mais fácil suportar as longas horas, os dias menos bons.
Por isso pergunto-te, o que estás disposto a aguentar, ou qual é aquela coisa que vale a pena sofrer por?
Não há progresso sem falhas, a receita para ter boas ideias é ter muitas más ideias e, estatísticamente as boas ideias, as grandes ideias acabam por ver a luz do dia, temos é de retirar todas as péssimas que as estão a tapar.
Sim, tudo na vida é sofrimento, intervalado por aqueles breves momentos de descoberta da tal ideia suterrada mesmo lá em baixo, no fundo do baú, mas se não escavares, não te sujares, arranhares, suares, ela nunca virá ao de cima. Por tudo ser sofrimento, o truque é aprender a gostar de nos arranharmos, aprender a enfrentar o papel em branco com um sorrizinho na cara de quem está desejoso de entrar na luta, tipo – não tens hipótese papel em branco, vou escrever quer queiras quer não.
Cada pequena, micro batalha, que ganhamos dá-nos a motivação para continuar, pois sabemos que somos capazes, temos provado a nós mesmos que temos o que é preciso para avançar, sem dramas, sem bloqueios artísticos, sem autoflagelação, sem procrastinação, como diz o Coach Sommers “Show up. Do the work. Go home”. Isto para mim tem maiores implicações do que pode parecer à primeira vista, tudo se torna exponencialmente mais fácil, a única obrigação é aparecer, não é obrigatório ser fantástico, retira pressão, fazer o trabalho, e uma vez que já comecei, que já apareci, mais vale fazê-lo o melhor que sei e consigo, e no fim ir para casa, desligar, sem estar a pensar no que devia ter feito, se é uma obra prima, se todos vão gostar, e por aí adiante, é simplesmente aparecer, fazer, e desligar.
Para estabelecer hábitos, uma das técnicas usadas é transformar o hábito novo numa coisa simples, o mais básica possível. Por exemplo, para lavar os dentes, o mínimo “obrigatório” é um dente, apenas um, pegar na escova e lavar um dente, ninguém acha complicado lavar só um dente, por isso aparece. Porém, é parvo só lavar um dente, e uma vez que já tenho a escova na mão, a pasta, porque não lavar os dentes todos?
Se há algo que desejas fazer, não estabeleças um prazo curto, porque isso implica haver grande evolução em pouco tempo, e tudo o que vale a pena demora, e ao não veres a tal evolução rápida vais ficar frustrado e desistir, convences-te que aquilo não é para ti.
Falo por mim, hoje há pessoas que me encontram “nas internets” que nunca me teriam encontrado se eu já tivesse saído, se tivesse fechado portas, tenho-me mantido cá, uns dias melhor outros nem por isso, acredito muito mais que sou capaz, mas se pudesse dar um conselho ao rapaz que começou isto há quatro anos, era o conselho de não colocar prazos curtos, aparecer, fazer o trabalho e ir para casa, renovar baterias, descansar e desse lugar de paz e energia, tudo o que fizesse no dia seguinte seria bem melhor do que voltar a aparecer revoltado porque os resultados não aparecem.
Por outro lado, não saberia dar valor ao conselho de alguém que me dissesse que era tão simples como aparecer, fazer o trabalho, e ir para casa.
“Good judgment comes from experience, and a lot of that comes from bad judgment.”
Will Rogers
Dúvidas ou sugestões, para rui@falarcriativo.com
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