Podcast: Play in new window | Download (5.6MB) | Embed
Subscribe: Apple Podcasts | RSS
Há um ditado português que diz:
“Quem anda à chuva molha-se!”
Ouvi também uma versão um pouco diferente mas que no fundo toca no mesmo ponto.
“Se não te queres molhar, não saias à rua.”
Embora parecidos, não revelam a mesma postura, um é mais um aviso para aquela pessoa que está disposta a sair para a chuva, o outro é um aviso para a pessoa que quer sair para a rua mas que não se quer molhar.
Uma procura aventura, a outra quer aventura mas não quer pagar o preço de se molhar.
Ao longo da minha vida tenho sonhado em viver grandes aventuras mas não queria arriscar molhar-me, queria espaço, liberdade, mas temia a chuva. Podia ter sido tarde demais, já não ter tempo para ver o sol e a chuva sem ser pela janela.
É um termo muito utilizado na criatividade o “brainstorming”, a tempestade de ideias, e como um ouvinte me sugeriu por mensagem (que infelizmente não encontro e não tenho maneira de lhe agradecer), depois da tempestade onde esteve tudo cheio de energia a dar sugestões, caminhos, há muitas vezes quase uma apatia em que as excelentes ideias que surgiram no exercício não avançam, não chegam a passar de ideias e boas intenções.
Aqui as pessoas estão dispostas a ir para a tempestade, mas continuam a não se querer molhar.
Quando temos uma lista de possíveis caminhos e de ideias, de nada nos serve ficar à espera que as coisas de forma mágica se concretizem, os céus se abram e só haja sol nos nossos dias.
Mas não dizem que depois da tempestade vem a bonança?
Vem, pode vir, umas vezes sim, outras vezes a seguir a uma tempestade, vem outra tempestade, mas mesmo que venha a bonança irá servir para avaliarmos o que saiu da tempestade, apanhar os cacos e reconstruir.
Na implementação das ideias, a fase da chuva, é quando nos molhamos, quando começamos a dar forma às hipóteses que saíram da tempestade muita coisa pode não correr como planeado, mas acima de tudo o que mais acontece é sairmos dessas ditas reuniões sem um plano de acção, sem uma lista concreta dos próximos passos, quem é que os irá dar e quem poderá ajudar.
Implementar, acho que já o disse aqui, é mais uma fase de ideias, mas uma fase em que já estamos a dar de caras com a realidade e não só com cenários imaginados e ideais, e é nessa fase que nos vamos esfolar, que vamos cerrar os dentes quando falha, dar murros em paredes, e se não estamos comprometidos com outros ou com a tarefa é sempre mais fácil ficar em casa no quentinho esperando por dias de sol.
Não há atalhos, não há sempre cobertura para nos proteger da chuva ao longo de todo o caminho. Vamos apanhar constipações, vamos cair doentes na cama, vamos espirrar, tossir, ter dores no corpo, mas sabemos para onde queremos ir, temos um plano e as constipações não são o fim da linha, são apenas paragens ao longo do caminho.
O importante é o compromisso com a tarefa, os porquês de estarmos a gerar ideias, as ideias não são o fim do processo, são para mim o meio, sendo o início alguma dor ou desconforto que nos leva a pensar que poderá ser feito de maneira diferente.
Lembrei-me agora de um exemplo.
Se eu tenho fome, posso imaginar os mais variados pratos deliciosos, mas se não comprar os ingredientes e cozinhar, não irei comer e irei continuar com fome.
Gerar ideias sim, sempre, mas guardar sempre tempo para criar plano de acção e comprometer os envolvidos na fase seguinte, e na minha experiência uma pessoa só se compromete quando está sintonizado com a razão para aquela ideia ir para a frente, quando é importante para si como é importante para o grupo.
Não é perda de tempo a busca das razões de cada um para estar envolvido, porque fazer só porque é o que esperam de nós nunca foi um motivo suficientemente forte para levar algo até ao fim de forma a que tenha valido a pena.
Resumindo a receita:
- Problema a resolver
- Porque razão é importante para cada um que aquele problema tenha soluções
- Geração de ideias
- Selecção de ideias que façam sentido para todos
- Plano de implementação
- Distribuição de tarefas
- Comprometimento com as soluções encontradas
- Relembrar porque razão estão a fazer
- Acertar, Falhar, Acertar, Falhar
- Ponto de situação
Encarar este processo de forma orgânica, iremos ter de voltar várias vezes ao início, mas o primeiro ponto é sempre o mesmo, um problema para resolver.
Depois da tempestade pode não restar nada, mas a nossa vontade de continuar deve estar lá, e essa é a única coisa que controlamos.
Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.