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“Não há atalhos para a verdadeira excelência.”
Angela Duckworth
Há alguma coisa que valha mesmo a pena, que não valha a pena esperar?
Quando escolho ir por um atalho, faço-o sabendo que não aprendo o mesmo?
Qual é mesmo a pressa?
Existe este grande desafio hoje em dia do penso rápido, de acabar depressa com o desconforto, o atingir o sucesso em pouco tempo, ficar rico de um dia para o outro criando mais uma app qualquer, todos temos pressa, cada vez mais pressa, mas cada vez mais infelizes.
Somos inundados pelos anúncios que nos dizem que podemos perder peso em “apenas quatro semanas”, que podemos ficar musculados em “apenas dez minutos por dia”, que podemos aprender uma nova língua em “apenas dois meses”, e acabamos por nos sentirmos mal por falhar, por tentar e ao fim de quatro semanas perdemos pouco ou nenhum peso (ou o ganhamos de volta numa semana), que os tais dez minutos por dia não resultam em corpos musculados, e que ao fim de dois meses sabemos dizer olá e bom dia nessa nova língua que decidimos aprender.
O Tim Ferriss é adepto da aprendizagem acelerada, de aprendermos mais depressa, eu também, podemos entender à primeira vista que me estou a contadizer, que critico os atalhos e as receitas, e depois vou pelo mesmo caminho. Vou então tentar explicar o que penso sobre esta relação, atalhos e aprender mais depressa.
Quando busco uma receita para algo, poderá ser até um bolo, busco informação validada por outros que já experimentaram várias vezes juntar ovos, farinha, leite, fermento, açúcar, perceberam que haviam quantidades relativas entre os ingredientes que funcionavam e resultavam num bolo saboroso e de boa textura, e outra vezes em que ficou vazio, muito doce, pouco doce, seco, queimado… percebes o que quero dizer. Mas mesmo nas situações em que estou a seguir uma receita eu vou ter de aprender, vou ter “perder” tempo a executar o bolo, vou ter de aprender a partir ovos, a pesar a farinha, a bater os ingredientes, e vou ter de ajustar a temperatura do forno.
As pessoas que criaram a receita usaram os ingredientes que tiveram acesso, o forno que tiveram acesso, e aqui podem existir diferenças para a minha réplica de bolo seguindo a receita, o forno pode ser mais potente, os ovos podem ser maiores, a temperatura da cozinha onde o bolo é feito pode ser diferente, ter batedeira ou bater o bolo à mão.
Onde quero chegar?
Quero chegar ao ponto de que podemos acelerar o processo de fazer um bolo, sem dúvida, no fim da nossa primeira tentativa de fazer um bolo, iremos ter algo que se assemelha a um bolo, mas duvido muito que seja o melhor bolo que vais fazer se continuares a tentar fazer bolos.
Quem busca fazer melhor, quem busca a excelência como diz a Angela Duckworth está disponível para aprender com os outros mas também está disponível para o desconforto de experimentar, de correr mal, de aprender o que não é para fazer, a arranjar recursos internos para o que não está no plano.
Dou por mim a tentar arranjar atalhos para fazer isto ou aquilo, como por exemplo estes textos, passar o tempo a ler e a pensar para quando chegar aqui e me sentar ser o mais rápido possível, para não me confrontar com o desconforto das coisas não estarem a sair de forma fluida, de parar sem saber o que escrever a seguir, de criticar o que escrevo, de achar que já li isto em qualquer lado, que me estou a repetir. Enfim, é desconfortável fazer qualquer coisa, ou melhor, tudo tem desconforto associado, não há nada que seja só bom e agradável.
Os atalhos, são versões resumidas daquilo que temos de aprender, como se o resumo de um livro se tratasse, e da minha experiência, o resumo não é tão interessante como todas as nuances que o livro contém.
Vou ser sincero, há livros que o nem valia a pena fazer um resumo de tão maus que são, ou o resumo acaba por ser a salvação das pessoas que não têm de ler o livro.
Mas os livros que valem a pena, os filmes que valem a pena, a tua ideia que vale a pena, não podemos usar atalhos, podemos usar referências, guias, ajuda de outras pessoas, mas chega sempre a um ponto que é só nosso, que somos nós a ter de aprender a lição que está incluída no nosso objectivo.
No momento em que eu aceito que o caminho é aquele, preparo-me para ele, os treinos, as aprendizagens incluem o que não correu como planeado, aprendo com os imprevisíveis em treino, dessa forma, quando me coloco a caminho, tenho na minha mala de ferramentas várias situações em que tive de resolver de improvisar.
Quem escolhe andar apenas por atalhos, pode até chegar lá mais depressa, se tudo (mas mesmo tudo) correr bem e como planeado.
Pergunto eu, quantas situações sabes tu que correram exactamente como planeado?
É esse o maior custo dos atalhos, deixa-nos preparados para o que já foi feito, e deixa-nos no nível que os outros estabeleceram para nós, o nível que eles estabeleceram para eles.
Se usares as receitas como ponto de partida, são fontes de aprendizagem. Se usares as receitas com o intuito de ter algo concreto rapidamente, não te admires se ficares no primeiro obstáculo, ou pior, ficar no fim de uma estrada sem saída, que servia apenas para voltar para trás, pois não era para onde querias ir.
A tentação do atalho é legítima, o nosso cérebro pede que terminemos as coisas, evoluiu assim, no entanto tens a capacidade de estabelecer metas mais pequenas que vais completando, tens a capacidade de dizer a ti mesmo que onde chegaste hoje é mais perto do que de onde saíste ontem, que a dor que sentes agora de ainda não ter terminado passará, e acima de tudo saber que a tua escolha de ir pelo caminho que é o teu te torna mais capaz, mais forte. Dessa forma encontras a paz de saber que foste o dono das tuas escolhas que não te limitaste a seguir receitas, a construir mobiliário seguindo as instruções, criaste pratos únicos, e mobília que os teus netos vão ter orgulho de mostrar aos amigos como uma expressão de amor e arte.
Dúvidas ou sugestões, cá estarei para ouvir, rui@falarcriativo.com
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