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“Quando deixas de contribuir, começas a morrer.”
Eleanor Roosevelt
Tinha planeado escrever sobre outro tema, mas uma vozinha interna disse-me que não, que esse ficava para depois, este era mais urgente.
E eu fiquei a pensar porquê.
Então ontem, ao almoçar com um dos meus melhores amigos, conhecemo-nos há trinta anos, percebi que tinha mesmo de escrever sobre isto.
Vivemos num tempo em que é cultivada necessidade de “standout”, ser único, ser diferente, que temos de mostrar ao mundo o nosso valor, somos convencidos que somos especiais.
Não somos, pois se todos formos especiais, ninguém é.
Com este conceito de sermos especiais, ficamos a achar que por sermos especiais três coisas têm de acontecer.
A primeira é que os outros têm de ver a nossa “especialidade”, que temos de ser idolatrados como se fôssemos um novo messias que desceu à terra, e que se não o fazem é porque estão contra nós, são ignorantes, são seres inferiores, que não têm a capacidade de ver a magnitude do nosso alcance.
Pura soberba.
A segunda, que também acaba por vezes ser consequência da primeira, é que se somos especiais, não nos temos de esforçar, mais cedo ou mais tarde, todos vão conseguir ver o magnífico que somos, e os que não vêem, é porque são ignorantes como já referi.
Acreditas que sem esforço, por pouco que seja, se consegue algo que valha a pena?
A terceira, é que se somos especiais, conseguimos fazer tudo sozinhos, não precisamos da ajuda de ninguém e que isto é tudo sobre nós, sobre o que conseguimos alcançar, onde conseguimos chegar só porque somos seres especiais.
Todas estas consequências de sermos levados a achar que somos ou devemos ser especiais, causam uma frustração gigantesca, porque trazem consigo uma responsabilidade maior do que aquela que qualquer um de nós pode suportar.
Porquê?
Porque se dependemos que os outros vejam o quanto especiais somos, estamos à mercê de forças externas para nos sentirmos bem.
Se não nos esforçarmos, porque segundo a teoria de sermos especiais não precisamos, tudo que conseguimos alcançar vai estar muito longe dos padrões de excelência que construímos nas nossas cabeças, padrões baseados na crença de que pessoas especiais fazem coisas extraordinárias.
Se é sobre nós, se sozinhos temos de ser capazes de resolver todas as questões que nos tocam, no momento em que não encontramos as respostas, desesperamos, sentimos que não há maneira de avançar, não conseguimos ver qualquer caminho, estamos fechados nas nossas cabeças, nas nossas limitações.
Posso falar por mim, durante a maior parte da vida me deixei convencer que tinha alguns dons, e que a vida era injusta naquilo que me trazia de volta, eu merecia mais, eu era especial.
No entanto, nunca me senti especial, esse é o grande problema, não somos nós que nos sentimos especiais, são os outros que nos fazem sentir especiais, não porque somos, mas porque os fizemos sentirem-se especiais.
Este podcast começou pela luta de descobrir porque é que os outros conseguiam fazer coisas que eram reconhecidas como criativas e com valor, e eu que tinha montes de ideias que eu achava fantásticas, continuava à espera que a sorte me batesse à porta.
Quando o podcast começou a ser ouvido, quando as pessoas começaram a dar-me os parabéns, achei que mais dia menos dia iria ter o tal sucesso, que eu tinha conseguido criar um meio de me sustentar, que iria passar a vida a falar com outros para satisfazer a minha necessidade de me sentir especial por ter falado com este ou com aquele.
Rapidamente percebi que não, mas o que demorou mais tempo a perceber foi que nada do valor que criamos tem a ver connosco, tem a ver com os outros, tentei servir-me do podcast, e acabei frustrado, desesperado por não perceber porque é que ninguém via o especial que eu achava que era.
Hoje em dia consigo ver que mais do que ter sucesso individual, do que saber o que quero da vida, é sim, de que forma posso ajudar outros, de que forma posso contribuir, sem esperar nada em retorno, e aí é que está o grande desafio, mas também a paz.
No momento em que acho que tenho de saber para onde vou, que tenho de ter o caminho bem traçado, que tenho de saber exactamente qual o próximo passo para chegar àquela coisa que me torna o ser especial, bloqueio, tenho dúvidas, acho que tudo são caminhos, mas ao mesmo tempo acho que tenho de saber, tenho mesmo de saber qual o caminho certo.
Nos últimos tempos, em cada situação que sinto que estou a ficar tenso relativamente a algo, percebo que está a ser sobre mim, sobre o que acho que devo parecer, sobre o que acho que tenho de saber, mas assim que mudo a atitude para – o que posso eu contribuir para esta situação? – a tensão diminui, começo a ver caminhos, possibilidades.
Humildade, e ser útil, essas são as verdadeiras medidas de sucesso, quando sou útil, quando sinto que não é sobre mim, as nuvens abrem-se, o mundo expande, o mundo é maior, e eu sou maior.
Se te sentes apertado, pressionado, questiona de que forma as tuas capacidades, aquilo que já tens pode contribuir para o mundo, vais ver que no processo as dúvidas sobre o que deves fazer a seguir diminuem.
Uma última nota, não falo em sermos escravos de ninguém nem das situações, somos nós que escolhemos contribuir, não são os outros que nos cobram nada, verás que a escolha de contribuir vai tornar claro para os outros que não estás disponível para os seus caprichos, és maior do que isso.
Por isso, reconhece que não és especial, és apenas maior do que os teus problemas.
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