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Será que temos de viver encolhidos, com medo de incomodar alguém, que os outros se sintam perturbados pelas nossas decisões, pelas nossas opiniões, por aquilo que nós somos ou queremos ser?
Recentemente tive uma experiência onde fiquei mais convicto do meu valor, mas ao mesmo tempo, seguro do valor dos outros, e, que é apenas uma rotina de pensamento que corre dentro das nossas cabeças que nos impede de andar no mundo de peito aberto, disponíveis para ser vistos, que nos faz baixar a cabeça e nos impede também de ver os outros.
Somos levados a pensar pelas pessoas à nossa volta, e em muitos dos meios onde nos movemos, que não convém sermos muito confiantes, pois iremos parecer arrogantes, e além disso são-nos apontados defeitos que possamos ter, e dessa forma se temos defeitos não podemos estar no mundo de cabeça levantada.
Quando alguém levanta a cabeça, pode ver melhor, pode inspirar e ser inspirado.
Não é por termos defeitos que não devemos ter a confiança nas nossas qualidades, são coisas compatíveis, não há ninguém perfeito, e se escondo as minhas qualidades e capacidades, a única coisa que fica visível são os defeitos, e esses não inspiram ninguém.
Nas situações em que descobrimos que uma pessoa que respeitamos, que admiramos, revela alguma coisa menos positiva, costumam existir dois tipos de reacção. Uma delas é – olha que engraçado, até aquela pessoa tem as suas dificuldades, as suas falhas – a outra é – realmente toda aquela confiança e afinal é tão mau como os outros.
A primeira mostra-nos que apesar de haverem falhas, ou coisa menos boas, é possível ser alguém com valor que inspira outros, leva-nos a aspirar a também nós sermos maiores e inspirar e ser inspirado. A segunda deixa-nos num lugar onde a crítica não ajuda ninguém, não há espaço para crescermos, serve como desculpa para não termos de nos esforçar para ir mais longe por lutar por algo que nos preenche e nesse caminho ajudar outros a chegar também mais longe.
Porque razão devemos viver encolhidos, como que a pedir desculpa por estarmos vivos, por sermos aquilo que somos?
Poderia criar um sem fim de teorias da conspiração, mas de pouco adiantaria. O que adianta é dizer-te que há pessoas que reconhecem o teu valor, as tuas qualidades, que estão disponíveis para te dizerem quais são, mas tens de estar disponível para as ouvir.
Estar disponível para ouvir, significa estar disponível para crescer, para usar aquilo que são as tuas forças e a partir delas limar as arestas das partes que estão menos desenvolvidas, que poderás encarar como defeitos, como falhas, mas que na verdade são apenas características numa fase embrionária de desenvolvimento.
Quando uma criança de três anos faz um desenho de um cavalo, que mais parece uma cobra com pernas, ninguém lhe diz que não sabe desenhar, que é uma falha na sua personalidade, e mais importante, ninguém acredita que aquela criança não tem a capacidade de no futuro vir a fazer melhor.
Muitas vezes cristalizamos algo que fizemos no passado, ou que fazemos algumas vezes, como sendo algo que nos define, como por exemplo, eu durante muito tempo me convenci de que era uma pessoa agressiva, e quanto mais me via como o sendo, mais a agressividade aparecia. O que estava a acontecer era que as acções estavam a manifestar uma crença para dessa forma a validar. Somente quando comecei a encarar actos mais agressivos como acontecimentos isolados, e não como algo que me define, comecei a criar espaço para não reagir agressivamente.
Estive na Eslovénia numa formação sobre comunicação, mas com muito foco em ferramentas de autoconhecimento, onde éramos convidados a conhecer-mo-nos e desse ponto dar espaço aos outros para se mostrarem, para ouvirmos o que o outro tem para dizer, e muitas ferramentas de expressarmos o que sentimos sem que isso implique entrar em confronto.
Nesses dias em que fui crescendo, reparei que as pessoas estavam a valorizar duas das coisas que para mim são as mais importantes, o que mostra que consegui ser autêntico, que não me encolhi e mesmo assim fui bem recebido.
Essas coisas são a sabedoria e o humor.
Ao voltar para Portugal, ao pensar no Falar Criativo apercebi-me que tenho tentado cultivar a sabedoria falando com outras pessoas, reflectindo sobre temas que estou convencido que me fazem crescer, mas tenho deixado o humor de fora.
No podcast que faço com a Rossana Appolloni, o Ousar Ser, o humor está bastante presente, rio-me, faço rir, divirto-me, mas aqui convenci-me que para ser levado a sério, que tinha de ser sério, caso contrário seria mais difícil ter a confiança das pessoas que ouvem o podcast.
Quando comecei ninguém me conhecia, e não quis ficar com o rótulo de alguém que não sabia o que estava a fazer, e que não levava esta questão a sério, tinha de me provar perante os outros. Que erro.
As pessoas que me conhecem valorizam a minha capacidade de as fazer rir, de tornar alguns momentos menos agradáveis em situações das quais nos podemos rir e dessa forma melhorar os dias dos outros.
Sempre fui aquilo a que se pode chamar um “palhaço”, por várias razões cresci a querer fazer rir os outros, queria tornar o ambiente mais leve, porém tive situações em que o ser engraçado levou a que não me levassem a sério, cheguei a declarar-me a raparigas e elas entenderem que eu estava a gozar, que estava a brincar com elas, ficando muitas das vezes de coração partido.
Fui observando que é divertido estar perto do “engraçadinho”, daquele que nos faz rir, mas para determinados cargos, e até para namorado, é melhor escolher uma pessoa séria que leva a vida a sério, pois com a vida não se brinca, segundo dizem.
Mas não, com a vida pode e deve-se brincar, da mesma forma que a vida brinca connosco, assim sendo torna-se uma dança e não sermos aquela pessoa que fica sentada a olhar enquanto a vida dança, goza e rodopia à nossa frente.
Nos episódios que fiz com o Ricardo Araújo Pereira, e com outros ligados ao humor como o Guilherme Duarte o meu humor veio mais ao de cima, espreitou, sentiu que era seguro sair, mas logo de seguida o meu lado crítico me veio dizer que são eles que têm graça, e que eu tenho mais é de parecer sério.
Fica aqui então a nota, vou tentar ser mais divertido, é mais aquilo que sou e que aqui não tenho sido, e não é por causa disso que a seriedade dos assuntos que for abordando irá ser menor, poderei uns dias estar mais sério, outros mais divertido, mas aquilo que não irei fazer é esconder o humor só porque me arrisco a ser menos credível.
Não penses que vou passar a contar anedotas nos podcasts, apenas significa que aquilo que valorizo é uma mistura de humor com sabedoria, criatividade com trabalho, e de sucesso partilhado com os outros, e é isso que vou tentar sempre trazer.
Fica aqui a frase me que lembrei enquanto escrevia isto:
“Arrisca-te a ser visto em toda a tua glória”
Jim Carrey
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