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O convidado desta semana é o André Oliveira, argumentista que recentemente ganhou o prémio de melhor argumento no festival de banda desenhada da Amadora, com o livro “Volta”.
Nas minhas visitas ao festival, tomei contacto com o trabalho do André, e rapidamente percebi que, primeiro tinha de comprar o livro “Hawk”, e de seguida falar com ele.
No dia que comprei o livro, fui logo lê-lo, e como a minha história tem muitas coisa parecidas com o Vicente (o personagem principal), facilmente tocou em botões dentro de mim que me fizeram comover, a ponto de ter ficado num estado quase de transe emotiva, da qual só acordei quando voltei ao meu local de trabalho e uma colega me pergunta o que é que se tinha passado, se estava tudo bem.
Estava tudo bem, porque como falei com o André, procuro ser tocado pela arte, sentir-me vivo, sentir renascer coisas que fui desligando, tornar-me mais daquilo que sou.
Nos dias antes de falar como André fartei-me de comentar com várias pessoas que o ia entrevistar, e que até estava algo nervoso, uma vez que percebi pela investigação que fiz, tratar-se de um excelente argumentista, mas acima de tudo uma boa pessoa.
O texto que o Mário Freitas escreveu como prefácio da colectânea “Casulo”, descreve o Sr Oliveira, que se torna André como sendo um aglutinador de pessoas à sua volta, e alguém com a capacidade de rir de si próprio.
Aquilo que vos posso dizer é que reconheço nele uma grandeza que senti também no Filipe Melo, pessoas que são muito maiores que a sua obra, sendo essa obra gigante. Essa grandeza vem de uma grande generosidade criativa, um ego diminuto que permite trabalhar com muitas e variadas pessoas, com igual grau de sucesso.
Se há característica que tento copiar é essa de conseguir não alimentar o ego, nem sempre o consigo. E a razão para esse insucesso, vem de querer ser visto pelos outros como relevante, e aqueles que são relevantes, simplesmente o são.
Ele escreve livros “na sua pessoa”, e eu tento fazer entrevistas na minha pessoa, e aqueles que correram menos bem, foram aqueles em que tentei ser outra pessoa, alguém que achava ser mais o mais indicado para a ocasião, mas não eu. Nessas ocasiões escondi-me, e quem apareceu era um boneco de cartão, sem profundidade. E é na profundidade que está o valor.
Percebo cada vez melhor a força que existe na persistência e na capacidade de ser parte, e não estar permanentemente aos saltos para ser escolhido.
Eu escolho ser parte, eu escolho sonhar com um mundo onde não se divide a tarte em mais partes, mas todos fazemos uma tarte maior.
A banda desenhada parece-me caminhar nesse sentido, e eu fico muito feliz por isso.
Livros sugeridos:
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