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Esperar é doloroso.
Esquecer é doloroso.
Mas não saber o que fazer é o pior dos sofrimentos.
Paulo Coelho
Nós sabemos o que fazer, mas, ou não temos a coragem, ou esperamos que outros façam por nós.
Que mania esta que temos de esperar que nos salvem, qual donzela em apuros que espera o seu príncipe.
Numa entrevista do Seth Godin ouvi o entrevistador referir que o Seth lhe disse há uns anos “Ninguém vem, pára de esperar” e que isso lhe tinha mudado a vida.
Mas como? Perguntas tu.
Por muito que custe o Seth tem razão, falo por mim, passei muitas horas à espera que me salvassem, que algum acontecimento mudasse tudo e que a vida passasse a correr às mil maravilhas.
Poder acontecer pode, mas a probabilidade de eu estar sentado à espera e a sorte acontecer é muito reduzida.
O anterior convidado André Leonardo tem uma expressão, a sua imagem de marca, que é “Faz Acontecer”, tanto que é o nome do seu programa de televisão, e essa atitude é activa, fazemos acontecer, não estamos à espera que aconteça.
Esperamos que aconteça, esperamos que outros façam acontecer, esperamos que outros impeçam de acontecer, esperamos que a sorte mude, esperamos…
E desesperamos.
A espera mata, a espera deixa-nos impotentes, à mercê do que possa acontecer, somos peões, não escolhemos, esperamos.
Se me perguntares se eu espero que algo aconteça que mude o podcast, responderei que espero. Espero ter mais ouvintes, espero ter patrocínios, espero conseguir entrevistar o Bruno Nogueira, espero melhorar como podcaster, espero melhorar como escritor, espero melhorar como pai, espero muita coisa, mas já não espero que seja alguém que não eu a fazer por isso.
Se vai acontecer ou não, não sei, sei que há partes que dependem de mim, coisas que eu controlo e coisas que não dependem de mim, essas podemos chamar de sorte ou azar, dependendo da interpretação que fizer, mas já não espero que seja outra pessoa a vir ter comigo com tudo o que desejo numa bandeja.
No momento em que esperamos por ser salvos sentimo-nos muito pequeninos, incapazes de agir, é a esperança de salvamento que nos leva a bloquear a energia que poderia ser empregue em reflectir nas nossas capacidades e como elas nos poderão ajudar num momento em que estamos em dificuldade.
Essa espera por ser salvos traz na maior parte das vezes também o sentimento de injustiça, de que aqueles que nos podem salvar não o fazem porque não querem, gastamos energia a reclamar, a barafustar, e quase sempre a culpar outros pela nossa situação.
Ao sabermos que ninguém vem, só há duas perspectivas, e na minha modesta opinião, são positivas.
Uma será que ninguém vem, estou sozinho e sou capaz de usar as minhas capacidades para mudar o rumo dos acontecimentos.
A outra será que ninguém vem, não sou capaz de mudar as coisas, tenho de aceitar as coisas como elas são, e nesse momento ganho a paz e o foco para canalizar a energia para outras coisas onde aí sim eu serei capaz de mudar o rumo dos acontecimentos a meu favor.
Culpar, cobrar dos outros ou da vida, esperar e desesperar, isso nunca levou ninguém a lugares positivos, lugares de crescimento, de evolução.
Claro que há casos de vida ou morte que o salvamento é necessário, em alto mar, em caso de terramotos, desastres, mas mesmo nestes casos, será muito mais fácil o salvamento se a pessoa em apuros conseguir colaborar com a pessoa que a está a salvar.
Na maior parte dos casos da nossa vida, não são estas as situações que nos fazem esperar e desesperar. Na maior parte dos casos as situações são esperar que o nosso rendimento aumente, que a nossa mulher não reclame connosco, que os nossos filhos se comportem como queremos, que o nosso chefe reconheça o nosso valor, esperar que os dias fiquem mais solarengos para começarmos finalmente a correr, ou qualquer outro desejo que temos e esperamos que seja resolvido por algo ou alguém.
Nesta altura do ano, o final de ano, esperamos, desejamos que o novo ano traga a nossa salvação, o nosso salvador, mas quantas vezes isso acontece?
Quantos anos já desejámos mudar algo no ano segunite e acaba o ano e está tudo na mesma?
Está na altura de metermos na nossa cabeça que ninguém pode fazer por nós aquilo que nós não fazemos.
Se quero estar em forma não posso estar à espera que os meus amigos me convidem para ir correr.
Se quero mudar de emprego não posso estar à espera que a economia mude ou que alguém repare no meu perfil do Linkedin e me faça uma oferta.
Se quero ter mais tempo para a família terei de ser eu a dizer não a algumas coisas que neste momento ocupam esse tempo.
Se quero ter mais paz não será reclamando com aqueles que me tiram do sério, será sim buscando a minha paz, buscando a perspectiva que me ajuda e não aquela que me prejudica. Sim porque em qualquer momento eu posso escolher a perspectiva que me ajuda, o acontecimento, a situação serão os mesmos, mas há pontos de vista que me ajudam e aqueles que me atiram para o fundo.
Isto é, se quero estar em forma e acho que dependo dos convites de amigos para ir correr, posso culpá-los por não me convidarem, ou posso ir correr sozinho, ou ainda posso eu convidá-los para irmos correr, e mesmo que recusem, posso olhar para a situação e entendê-la como um ataque à minha pessoa – não gostam de mim – ou posso compreender que também eles têm dificuldades em lidar com a sua falta de tempo, não sendo algo contra uma decisão minha de ficar em forma.
Falo disto porque já o fiz muitas vezes, já culpei, já reclamei, já esperei pelo meu salvador, pela pessoa que chega e resolve tudo, e isso vem da falta de maturidade, vem de uma pessoa que se acha adulta mas comporto-me como bebé indefeso que fez cócó na fralda e espera que alguém o limpe.
Se queres fazer desejos para o ano novo que aí vem, deseja saber que ninguém vem, que tu dependes de ti e daqueles que te podem ajudar, mas que nunca irão fazer por ti aquilo que tu próprio não estás disposto a fazer.
Dúvidas, inquietações, desabafos, rui@falarcriativo.com
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